Semente do btf - II


Estou fazendo uma pesquisa : sempre que encontro casais de longa data , mesmo que os tenha acabado de conhecer , me atrevo a perguntar : Qual é o segredo ?

Me bateu essa curiosidade desde que passei a acreditar na monogamia como uma opção a ser considerada - quando meu avô paterno morreu  , após 62 anos de casado , e descobri com surpresa que ali havia mutualismo e amor  em vez de casamento arranjado e submissão .

As descobertas são bonitas e interessantes . De início achei que as respostas seriam iguais , mas não . Cada qual me deu uma resposta diferente . Mas parece que , fazendo uma boa média , a coisa fica entre compartilhar objetivos comuns , praticar a tolerância e cultivar a individualidade .

Agora deu vontade de fazer uma outra pesquisa (que começa por mim mesma) onde o campo seria ainda mais vasto , mas arrisco dizer que a variedade das respostas , menor .
POR QUE OS CASAIS ATUAIS DURAM TÃO POUCO ?
Quem disse que isso é estatisticamente verdade , eu não sei . Só vou continuar usando essa visão unilateral para escrever sobre a minha experiência .

👉 Mas me ajuda aí , se constituiu família e se separou , de maneira geral , por que isso aconteceu ?

Sou mãe desquitada (risos) e com uma significativa rede de amigas idem . As opiniões aqui expressas podem ser contundentes , pois refletem a visão e experiência de um número limitado de indivíduos mas  :
  1. O universo emocional humano é vasto e , tanto não queremos assumir isso quanto não fomos criados para ; portanto nos isolamos em caixas-relamentacionais com roteiros pré-determinados e que assumem como aceitável um número limitado de experiências emocionais , até que os limites encontrem a realidade insuportável e explodam para que possamos ampliar as relações e sanar necessidades de riqueza emocional que uma só pessoa não pode nem deve suprir  .
  2. Caso a primeira opção não se aplique , ocorre que sofremos com uma imensa falta de referência de relacionamentos saudáveis de longo prazo . Em geral , nem sabemos como fazer pra evoluir e construir juntos de maneira honesta com os propósitos de ambos  . O que nos leva a
  3. Em geral  , estamos em velocidades diferentes  e em algum ponto , divergimos  .
A maternidade - quem já passou por isso , sabe - é uma das experiências mais profundas dessa vida e pode acelerar esse processo de divergência .

- A mãe desde o início até o não-final sofre mudanças profundas e passa por processos que o homem não . Se não houver uma sinergia muito forte , e desconfio que se houver também , aí começa um distancianciamento , uma diferença de velocidade que pode ser agravada por
- Aquele cansaço descomunal daqueles dias de terror em que você não aguenta mais passar horas amamentando  , fazer seu bebê dormir (pra logo depois acordar repetidas vezes) e não consegue suprir as necessidades básicas pessoais . A constante sensação de estar sobrecarregada (e se estamos semi mortas e loucas e nosso parceiro não , esse desespero acompanha raiva e culpabilização)
- A rotina esmagadora do eterno retorno de limpar e organizar coisas que nunca permanecem limpas e organizadas e precisar sanar todas as necessidades de no mínimo dois seres e meio .
- O desamparo , o isolamento e falta de apoio nessa época mais delicada , tanto de sustentação das funções básicas da vida quanto psicológica e emocionalmente falando . Maternar a dois é definitivamente demais , e isso pode gerar bastante conflito dentro do casal  .
- Também sofremos com falta de exemplos saudáveis nesse campo e em geral nunca nem ouvimos falar desses desafios antes que eles acontecessem e menos ainda como lidar com tudo isso de maneira sã . E claro , em caso de saturação a saída que vemos (o exemplo do qual estamos cercados) é o rompimento . 
Inclusive estou falando tudo isso para deixar registrado que acho importante falar a respeito , sem certos nem errados , para que possamos ter condições de ser melhores futuros pais e mães (pra quem ainda não é) e apoiar melhor as famílias enquanto sociedade .

O que maternidade e Banco de Tempo têm a ver (na minha vida) 

Afinal de contas , esse é o adendo do post anterior . Vai achando que o Banco de Tempo nasceu só de trabalho e vontade ..

Nessa época do puerpério eu estava longe de qualquer família e ainda alimentava sonhos de "um mundo melhor". Estava super na vibe de assistir documentários e ler livros anti-dinheiristas e ficava imaginando como íamos acabar com essa merda toda . Embora estivesse passando por tudo que mencionei acima , precisava superar a inércia da rotina e o isolamento , ao mesmo tempo ser útil e fazer uma manutenção constante da minha vida individual  . Nesse contexto , o Banco de Tempo foi um respiro onde pude agarrar para me manter íntegra e não surtar de vez .
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Sinto e sempre falo do Banco de Tempo como se fosse uma entidade própria  . Quando o criamos , várias pessoas ficaram super felizes e disseram que já haviam pensado na ideia . De fato , ele já estava pairando no ar e no consciente coletivo , só esperando alguém que topasse arregassar as mangas e fazer . Gosto de pensar que ele encontrou na minha disponibilidade e obstinação o contexto perfeito para plantar a semente que centenas de outras pessoas regariam para o projeto florescer (não cabem aqui todos os agradecimentos nomeados, no coração sim) . Mas esse processo de entrega foi também uma troca e teve lá seus custos .

Durante os dois primeiros anos , uma única coisa passava pela minha cabeça - banco de tempo , banco de tempo , banco de tempo .

Uma verdade morna sobre essa e outras "revoluções puxadas pela classe média" é que durante esse tempo eu estive isenta de produzir dinheiro . Foi um combinado com o pai da Celeste de que eu me dedicaria a ela durante os primeiros anos . Ele trabalhava fora e eu , dentro de casa (cuidar da Celeste e da casa) . Usava principalmente as madrugadas para trabalhar no Banco , me acostumando a dormir 4 ou 5h por dia (Quem me acompanhou naquela época sabe que as atualizações e respostas saíam entre 23 e 4h . Nem tudo mudou , escrevo esse texto às 3h..) Fora isso , usava as horas que podia e as que não podia para ficar conectada o tempo todo , promovendo coisas , resolvendo tretas , respondendo pessoas ..

Um print do vídeo que coloquei no post anterior - fazendo vídeo enquanto Celeste mamava , roupa estendida ao fundo .

No meu relacionamento , respeitávamos muito o espaço um do outro , isso talvez tenha sido um problema , pois ignorei todo o resto e mergulhei de cabeça no projeto , que não teve aderência direta por parte dele . Eu usava para o banco o tempo do namoro , tempo de mãe , tempo pra mim , um paradoxo com o qual considero que firmei as bases energéticas desse projeto .
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De quando a Celeste nasceu até seu primeiro ano , foi o período mais focado em alimentação saudável - crudivorismo , que já tive . Fiz seu primeiro aniversário todo vegano e sem açúcar , os docinhos e a torta crudívoros , e todos os convidados curtiram . Passei os próximos 4 meses nutrindo a ideia , criando receitas e organizando um novo negócio - a Docê . Mesmo oferecendo algo de real qualidade e no qual acredito muito , usei aquilo como um desengargo de consciência , porque continuava focada no Banco . O Caetano dizia que se eu trabalhasse na Docê com o mesmo empenho que trabalhava no Banco , já estaria rica . Eu não estava nem um pouco rica nem conseguia trabalhar com o mesmo entusiasmo nos docinhos e sabia porquê - o que eu queria realmente era agitar projetos sociais , eventos , me conectar com pessoas através do Banco de Tempo .

Niver de 1 ano da Céu . Felizona , naturebs e de franjinha . 
Depois de dois anos de intenso respeito mútuo do espaço um do outro , dentre outros processos , me descobri distante no relacionamento e decidi viajar . Esperei o segundo aniversário da Celeste e assim começou uma outra parte do ciclo ..

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