Compras Coletivas - Uma lição de Co-responsabilidade

• Cultura do Individualismo

Outro dia pegando carona me perguntei "Por que os carrões nunca param , olham ou dão sinal ?" .
Quem pára em geral é gente com seus carrinhos simples . Abrem a porta afastando pro lado os trecos e se desculpando pela bagunça .
É comprovado estatisticamente que os maiores índices de solidariedade e colaboração acontecem entre pessoas e comunidades com menor renda . Pensa no samba da rua que junta toda a vizinhança , e na separação quadrada e muda dos apartamentos . Pensa no cuidado coletivo de crianças em cidades interioranas e nas creches com mensalidades de faculdade das grandes cidades .

Dia de compartilhar - partilha de excelentes , compras coletivas e produtos artesanais no Chalé Raiz .

A colaboração é o antônimo do individualismo .
A sociedade do consumo institui o individualismo pra poder fazer sentido - se todos podem ter tudo , sem precisar comprar comprar comprar , qual seria o sentido da máxima : viver pra trabalhar - trabalhar pra comprar ?
Com compartilhamento e colaboração o consumismo não se sustentaria .
Então todo esse patrimônio precisa ser protegido com muros , pois foi conseguido por "mérito" próprio e não pertence a mais ninguém .

Dessa forma , crescemos aprendendo a cultura do individualismo .
No entanto muitas pessoas têm refletido a respeito e decidido que quer ir por um caminho diferente . A cultura da colaboração está emergente e se apoiando nas tecnologias de rede para se instituir .
Grupos de troca , bancos de tempo , células de consumo consciente , moedas sociais , redes , cooperativas , compras coletivas , movimentos comunitários .
Essas e outras opções são possíveis e reais , e já estão acontecendo !

• (Re)Aprendendo a Colaborar

Talvez justamente pela nossa formação no individualismo , não é tão simples entender de primeira o que é estar no coletivo e colaborar de maneira íntegra .
Estamos acostumadas demais a não precisar nos responsabilizar pelo que consumimos , e isso acaba nos deixando no automático .
"Se crianças na Africana precisam trabalhar 12 horas por dia para que eu tenha meu celular , ou animais sobrevivem em tortura e confinamento pra eu me alimentar , que seja , não é meu departamento ."
Pra gente sair disso e ir pra corresponsabilidade do consumo consciente que supra nossas necessidades e manutenção responsável dos nossos coletivos , é um caminho de consciência que todas queremos e estamos fazendo (oxalá!)
Pessoas que furam o combinado - seja porque marcou a troca por horas e faltou , se comprometeu a sustentar o coletivo e saiu de repente deixando um rombo no orçamento , ou desistiu do produto comprometendo toda a compra coletiva - tudo isso é natural e esperado , faz parte do nosso processo de aprendizagem e as razão não são as superficiais - não se comprometeu porque não tinha dinheiro envolvido , ou um contrato não assinado , ou por inconsequência . Não - é porque estamos A P R E N D E N D O
Mil textos podem ser escritos teorizando sobre as melhores formas de colaborar , mas não é exatamente racionalizando que vamos "chegar lá" . São durante essas experiências ricas entre encontros , ocasiões felizes de trocas bem sucedidas e frustrantes decepções e furos , que acabamos nos apercebendo de que aquilo que nos incomoda , podemos melhorar em nós mesmas e nada disso está sendo em vão - estamos alimentando uma nova cultura , como um bebê que nutrimos através das expansões de consciência surgidas nos grupos e que trazemos pro pessoal .

 Como pode ser melhor ? Tudo bem , eu posso me organizar mais , comunicar mais claramente , me responsabilizar de maneira consciente . Assim estamos evoluindo juntes , e vejo as coisas se encaminhando maravilhosamente bem !

• Compras Coletivas - Espaço e oportunidade de práticas de Co-responsabilidade 

As Compras Coletivas são um exemplo de espaço de aprendizagem prática do que é compartilhar responsabilidades . Explicando um pouco do processo , usando como exemplo a última Compra que organizei :

  1. Notei que o shoyu orgânico e livre de aditivos cancerígenos ainda me fazia ir ao mercado .
  2. Pesquisei uma fornecedora e encontrei a ideal - no estado ao lado , produção familiar , orgânica e viva . Entrei em contato solicitando tabela de valores .
  3. Essa tabela compartilhei no grupo de Compras Coletivas , me abrindo para receber pedidos no particular até determinada data .
  4. Só depois de coletar todos os pedidos , escrevo novamente para a fornecedora poder então orçar o frete e me encaminhar um boleto com o valor total dos pedidos + frete .
  5. Com a informação dos valores , o frete é dividido entre os pedidos , retorno a comunicação uma a uma , informando o valor total e dados para o pagamento .
  6. Enquanto isso , a fornecedora aguarda o pagamento para que o pedido possa ser enviado . Nesse momento , se alguém decide pular fora da Compra , todo o processo é abalado . É simples perceber como cada ponto interdepende , em especial a partir do ponto 4 . Uma desistência gera todo um retrabalho e recalculo - o valor do frete muda , o orçamento precisa ser refeito , a comunicação precisa dar alguns giros até chegar em novo fechamento . Tudo isso consome recursos e valioso tempo . Entre desistências e atrasos de pagamento , o pedido e todas as pessoas envolvidas na compra , aguardam . O sucesso completo depende da corresponsabilização individual . Que forte isso , né ?
  7. Quando todos os pagamentos são realizados , aí sim o boleto é pago , a fornecedora paga o frete e ele sai ao nosso encontro .
  8. Quando a compra chega é uma festa ! Novo texto é escrito - Partilha celebrativa é marcada , todo mundo se encontra pra compartilhar o que tem de bom , dividimos os maravilhosos produtos que adquirimos juntas e comemoramos o sucesso da empreitada ! Produtos que ficaram sem dono por desistência são rapidamente absorvidos pelo coletivo . Quem não pôde buscar no dia combina algum outro momento . Tudo fica bem e todo mundo sai ganhando ! Mas claramente , há bastante trabalho envolvido , em especial , da parte de quem centralizou a compra .
Sal marinho , missô , shoyu , sabões de óleo reutilizado por mulheres da Cooperart .
Contato da Família Hattori : familiahattori@familiahattoria.com.br

Nesse dia compartilhamos os produtos da Família Hattori , empresa orgânica e extremamente cuidadosa e responsiva em todos os momentos do processo . Excedentes do quintal - muito louro , limão rosa , abacates e folhagens ; o dia todo degustamos kombuchas , ginger bier , tofu , compartilhamos um delicioso missoshiro com alho poró e côco , e tivemos o dia perfumado por massalas ayurvédicas da Ayurveda na Prática . Pessoas incríveis se conhecendo , abraçando , compartilhando sonhos de coletividade e buscando soluções sobre como podemos prosperar mais juntes , mas já mergulhadas em toda essa abundância divina ! As crianças brincando ao nosso redor e iluminando o nosso dia com essa esperança bonita de uma nova cultura que está crescendo dentro dos nossos corações ♥

Viva a oportunidade de aprender no coletivo ! Viva a maravilha de acessar essa diversidade de produtos criados a partir de lugares mais conscientes e saudáveis ! Viva a transformação que já existe e acontece por meio de nós !

Qualquer encontro é motivo para compartilhar ★ excelentes ★ 

Tofu orgânico artesanal maravilhoso , shoyu Hattori ,
cebolinha da feira orgânica , kombucha de hibisco

Preparo de missoshiro reinventado e na panela de barro ♥

Massalas perfumadíssimas @ayurvedanapratica

Louro é o símbolo da prosperidade , sucesso , limpezas energéticas e
crescimento capilar (kkkk usar o chá nos cabelos) . Urucum , couve , e muito mais ★

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